Quando alguém afirma que a homossexualidade é pecado, a única justificativa plausível dada é “porque está escrito isso na Bíblia”. Ou seja, sem os textos, não haveria condenação. Logo, é importante analisá-los se realmente eles condenam, pois se verificar que não há tal condenação escrita de fato, então a homossexualidade não é pecado como se afirma.
Usualmente, utiliza-se três versículos da Bíblia para condenar a homossexualidade humana: Levítico 18:22, Romanos 1:27 e 1 Coríntios 6:9.
FATO 1: ao utilizar apenas estes três versículos isolados em livros diferentes, com contextos tão diferentes, isso também permite, para contra argumentar, usar o mesmo artifício: poucos versículos isolados, em livros diferentes com contextos diferentes.
ARGUMENTO BÁSICO: O texto de Levítico 18:22 não condena as lésbicas, logo, a Bíblia não condena a homossexualidade, senão haveria acepção de pessoas, o que a Bíblia afirma que Deus não faz. Ao contrário, seria necessário afirmar que as lésbicas não fazem parte do grupo da homossexualidade para dizer que a Bíblia condena a homossexualidade, já que Levítico cita apenas uma parte do grupo e ignora a outra. Mas afirmar que as lésbicas não são homossexuais é afirmar que relações romântico-sexuais entre pessoas do mesmo sexo não é homossexualidade, logo, nem os próprios homens gays são homossexuais, o que é ilógico.
Normalmente, se contra argumenta isso afirmando que Romanos 1:26 condena as lésbicas, logo, as lésbicas também são condenadas na Bíblia.
FATO 2: ao fazer isso, se permite então incluir valores e significados em um versículo a partir de outro versículo bem distante em tempo e contexto, já que para explicar a omissão às lésbicas em Levítico no antigo testamento, se utilizou um texto escrito séculos depois por outro autor no novo testamento.
FATO 3: conclui-se que a leitura de versículos bíblicos pode ser feita de forma descontextualizada e atribuindo significados que não estão escritos neles, pois Romanos 1:26 não afirma o que exatamente as mulheres faziam, mas não precisou disso para se afirmar que elas estavam fazendo sexo entre elas, mesmo o texto dizendo logo em seguida que o que elas faziam era semelhante, e não igual, ao que os homens faziam.
Com esses 3 fatos em mão, começa-se o raciocínio para contra argumentar os 3 textos usualmente usados para condenar a homossexualidade a partir de outros 3 textos: Deuteronômio 12:32, Romanos 7:7 e Tiago 3:17.
ARGUMENTO FINAL: no mesmo livro de Romanos, que se usou para dizer que lésbicas são condenadas na Bíblia, afirma no capítulo 7, versículo 7, que o autor do próprio livro só sabe o que é pecado pela lei, pois ele sabe que é pecado cobiçar pois está escrito na lei, “não cobiçarás”.
Logo, para ele saber que ser lésbica é pecado e condená-las em Romanos 1:26, é necessário que isso seja explícito na lei.
Usar o argumento que o Espírito Santo que revelou isso ao autor é contra-senso, pois o mesmo Espírito Santo que revelou ao mesmo autor o texto de Romanos 7:7.
Assim, voltamos ao texto de Levítico 18:22, o único texto da lei usado para condenar a homossexualidade, mas que não condena as lésbicas. Então, se houver qualquer tentativa de incluí-las nessa lei, será por meio de contextualizações.
Porém, na mesma lei, em Deuteronômio 12:32, se afirma que é contra a própria lei tentar adicionar algo à lei.
Então, tentar incluir uma condenação às lésbicas na lei de Levítico 18:22, para afirmar que o autor de Romanos tinha a lei para saber que lesbianidade é pecado, vai contra a própria lei.
E se a lei realmente as condenasse, então não teria necessidade de tentar incluí-las nela.
A simples tentativa de inclui-las em Levítico 18:22 através de contextualizações já prova que elas não estão condenadas de fato no texto. E como vimos, essa tentativa é contra a própria lei, que não permite fazer acréscimos na lei.
E por fim, essa tentativa seria feita através de contextualizações histórica, textual ou linguística, mas a mesma contextualização não foi feita para se condenar a homossexualidade masculina inicialmente. Pois, se feita, provaria na verdade que Levítico não condena nem mesmo a homossexualidade masculina.
Ou seja, para condenar os homens gays, a leitura dos textos foi descontextualizada, mas para se condenar as lésbicas, a leitura precisa ser contextualizada.
Se faz uma condenação a todo um mesmo grupo por um único texto, mas uma parte do grupo é condenada no texto de forma descontextualiza, e a outra parte é condenada no mesmo texto de forma contextualizada, ou seja, duas leituras diferentes do mesmo texto.
Porém, essa atitude parcial prova por fim que tal sabedoria não vem de Deus, pois Tiago 3:17 afirma que a sabedoria de Deus tem vários atributos, como mansidão, amor e bondade, mas também é uma sabedoria que não apresenta hipocrisia e parcialidade.
Quando o leitor é parcial na leitura do mesmo texto para condenar pessoas diferentes do mesmo grupo, isso prova que tal condenação não é de Deus. Além disso, seria hipocrisia e parcial tentar contextualizar qualquer um dos textos citados, já que o fato 3 já provou que a leitura de um dos textos condenatórios foi feito de forma descontextualizada.
Por fim, se tais leitores são desprovidos de imparcialidade e honestidade para julgar a questão na Bíblia, a leitura condenatória de 1 Corintios 6:9 para a homossexualidade também não vem de Deus.
Como adendo, se foi preciso citar Romanos 1:26 para condenar as lésbicas, isso é o mesmo que dizer que Levítico 18:22 se trata de um texto incompleto e insuficiente para o assunto, mas isso contradiz a própria Bíblia que afirma que “a lei do Senhor é perfeita” em Salmos 19:7.
Se a lei de Levítico é incompleta e insuficiente, logo, não é perfeita, logo, Salmos errou. Logo, a própria lei de Levítico também pode estar errada.
Mas se a lei do Senhor citada não é a de Moisés, mas a de Jesus, de forma profética, temos a mesma conclusão que a homoafetividade não é pecado, pois Jesus nunca condenou a homossexualidade, mesmo ele sabendo exatamente o que ele disse e fez que seria ou não registrado posteriormente na Bíblia (Mt 26:13).
É o mesmo Jesus que, ao citar Gn 2:24, outro texto muito usado para condenar a homossexualidade, ensinou que nem todos os homens convém se casar com uma mulher, alguns porque nasceram assim (Mt 19:1-12).
Resumo:
• Se Romanos 7:7 diz que se sabe o que é pecado pela lei, e Levítico 18:22 não condenou as lésbicas, e tentar incluí-las vai contra a própria lei de Deuteronômio 12:32, é impossível que Romanos 1:26 esteja condenando as lésbicas, logo, é impossível que a Bíblia condene a homossexualidade, já que isso seria acepção de pessoas, que a Bíblia também condena.
E a tentativa de inclusão das lésbicas na condenação de Levítico por meio de contextualizações, quando a condenação aos homens gays não foi feita de mesma forma, prova a parcialidade de quem o tenta, e Tiago 3:17 ensina que parcialidade não é um atributo da sabedoria de Deus.
Autor: Heberton Éder
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